Os desafios de implantar uma estratégia para conquistar novos assinantes digitais foram discutidos no painel que reuniu o diretor editorial do jornal mexicano Reforma, Juan E. Pardinhas, a editora de audiência e digital, Camila Marques, da Folha de S. Paulo, Paula Miraglia, a co-fundadora do Nexo Brasil, e Aruan Venkataramam, da Google News Iniative, parceira destes veículos em ações digitais. "Durante 16 anos, a Reforma teve um paywall inexpugnável. Só os assinantes podiam ver o conteúdo. Isso funcionou por um tempo mas está na hora de mudar. Vamos abrir pela primeira vez parte do conteúdo gratuitamente", revelou Pardinas.
O diretor-geral da Reforma lembrou que as mudanças no ambiente digital fizeram o jornal decidir abrir parte de seu conteúdo como forma de atrair novos assinantes, buscando também conhecê-los melhor. "Com o paywall, nós tínhamos 20 opções de assinatura e até assustávamos os leitores. O desafio é fazer essa busca por novos públicos em um ambiente de inovação constante e manter o rigor jornalístico e a qualidade que são os pilares da Reforma", disse Pardinas, destacando a parceira com o Google para a nova estratégia.
Editora de Digital e Audiência da Folha de S. Paulo, Camila Marques lembrou que o jornal tem 235 mil assinantes digitais. O maior desafio não é conquistar assinantes. O maior desafio é manter esses assinantes. A Folha captura muitos novos assinantes todos os meses. Mas também perde muitos. Precisamos mostrar permanentemente que o jornalismo de qualidade tem muito valor", disse.
Desde seu lançamento há quatro anos, o Nexo, veículo nativo digital, tem seu modelo de negócio focado em assinatura, sem qualquer publicidade. “É um jornal que prioriza o jornalismo de contexto e explicação. Precisávamos também inovar no modelo de negócios, apostar nas assinaturas. Não estamos preocupados com o breaking news", contou Paula Miraglia, co-fundadora do Nexo.
Ela destaca que o conteúdo editorial cria um compromisso com o público. “Não estamos atrás de desenvolver produtos que gerem clique. A gente tem uma missão de fazer jornalismo independente”, afirma Paula Miraglia, acrescentando que o próprio público cobra isso. "Os nossos leitores são uma boa patrulha: eles reclamam se veem uma reportagem que parece remotamente um caça-cliques”.
Aruan Venkataramam, do Google News Initiative, afirma que há mudanças de atitude dos consumidores. "Qual o papel do Google para ajudar as assinaturas? É preciso espaço e recursos para experimentar, codificar as melhores práticas. É jornalismo de laboratório, existem vitórias e fracassos para coletivamente chegar a todos, até achar um modelo de assinatura ideal", afirmou, frisando que o Google tem reforçado seu compromisso com a produção de conteúdo de qualidade e, por isso, o apoio a projetos jornalísticos.
No debate, o mediador Ismael Nafría, jornalista espanhol, em um momento do debate, fez a mesma pergunta para todos os convidados: "Qual é o maior desafio para os leitores se tornarem assinantes?" As respostas vieram na mesma linha: O desafio é mostrar que o jornalismo de excelência é fundamental e que as pessoas não devem deixar de assinar. “Os jornais não podemos nos dar ao luxo de cometer erros; temos que manter esse padrão de excelência mesmo com a necessidade de inovação. É preciso levar o leitor a dar valor a assinatura”, disse Pardinas.
Paula Miraglia afirma que as pessoas estão assinando o Nexo por diferentes motivos. “Nós precisamos entender esses motivos e desenvolver uma estratégia para reter esse leitor, uma estratégia de engajamento. Precisamos mostrar que somos um jornal que está interessado na assinatura e não na audiência”.
Texto: Julia Rivero / Fotos: Adriana Lorete
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